terça-feira, 31 de outubro de 2017

A Roda do Ano: os Esbats e Sabbats



Antigamente, quando o Deus e a Deusa eram tão reais quanto o Sol e a Lua, os rituais eram desestruturados - eram uma comunhão alegre e espontânea com o Divino. 

Depois, os rituais passaram a observar o ciclo do Sol através do ano astrológico e das estações, e também dos ciclos lunares mensais.

Atualmente, rituais parecidos são observados pela Bruxaria - e estas celebrações criam uma proximidade mágica com as Deidades e com o poder por trás delas.

A finalidade primordial da Bruxaria é estar em harmonia com a Natureza e com as energias divinas contidas nela. E a melhor forma de alcançar esta harmonia é a observação dos ciclos naturais. É para isso que servem os Esbats e Sabbats.
"Esbat" é o nome de cada uma das reuniões (ou celebrações solitárias) mensais, no primeiro dia da Lua Cheia ou da Lua Nova de cada mês. Nestas datas são celebrados os ciclos lunares; a finalidade básica dos Esbats é a celebração os ciclos da Deusa, em seus três aspectos: Donzela, Mãe e Anciã (Crescente, cheia e Minguante). 

Além disso, são épocas propícias para as reuniões, a editação e o estudo.
"Sabbat" é a denominação de cada um dos 8 grandes festivais solares que acontecem anualmente e que marcam a Roda do Ano das Bruxas.

Durante os Sabbats são celebrados, em grupo ou solitariamente, os ciclos do nascimento, maturidade, morte e renascimento do Deus, e sua profunda relação com a Deusa.

Mais um esclarecimento importante: Sabbat não é sinônimo de missa negra. Não custa repetir: não é usado nenhum símbolo ou objeto cristão. 

Nenhuma oração cristã é lida - nem de trás para frente nem de frente para trás. 

Não são feitos nem sacrifícios nem orgias.

Para entender melhor a Roda do Ano celebrada pelos Sabbats, podemos olhar para os períodos demarcados pelas 4 estações:

Durante o inverno, as árvores estão sem suas folhas, os animais se recolhem, os dias são muito curtos e as noites, longas. Lentamente, conforme os dias vão ficando mais longos e a primavera se aproxima, a Natureza parece se espreguiçar. É a época de preparar o solo. 

Com a chegada do verão, a Natureza explode em vida e fertilidade. É a época de semear. 

Enquanto o ano continua sua roda, o outono chega e, novamente, as folhas começam a cair. É a época de colher e armazenar para o inverno que novamente se aproxima.

Mesmo que aqui, no hemisfério sul - principalmente no nosso país tropical e bonito por natureza - as estações não sejam tão claramente definidas, dá para observar as mudanças sutis que acontecem. 

É só prestar atenção. Quem já viveu ou passou longas férias no interior sabe disso. 
As estações, as épocas de preparar a terra, de semear, de plantar e colher são super bem definidas.
Os Sabbats

SAMHAIN - Celebrado em 1o. de maio no hemisfério sul e em 31 de outubro no hemisfério norte (Obs.: a pronúncia é "Sôu-en")

YULE - Solstício de Inverno - Celebrado no primeiro dia do inverno (+ ou - 21 de junho no hemisfério sul e 21 de dezembro no hemisfério norte)

IMBOLC (ou Imbolg) - Celebrado em 2 de agosto no hemisfério sul e 2 de fevereiro no hemisfério norte

EOSTAR (ou Ostara) - Equinócio de Primavera - Celebrado no primeiro dia da primavera (+ ou - 21 de setembro no hemisfério sul e 21 de março no hemisfério norte)

BELTANE - Celebrado em 31 de outubro no hemisfério sul e 1o. de maio no hemisfério norte

LITHA - Solstício de Verão (Mid Summer) - Celebrado no primeiro dia do verão (+ ou - 21 de dezembro no hemisfério sul e 21 de junho no hemisfério norte)

LUGHNASAD (ou Lammas) - Celebrado em 2 de fevereiro no hemisfério sul e 2 de agosto no hemisfério norte

MABON - Equinócio de Outono - Celebrado no primeiro dia do outono (+ ou - 21 de março no hemisfério sul e 21 de setembro no hemisfério norte)

Eu aprendi muito a respeito da Roda do Ano através da simples observação de uma árvore específica. 

Observando sua metamorfose, da opulência à escassez, e dos brotos e sementes que levam novamente à opulência, eu tenho tido uma ilustração viva, há muitos anos, da eloquência deste ciclo infinito.

A lição principal que eu aprendi com esta observação foi a troca das datas dos Sabbats para que se adequassem à realidade do hemisfério sul.

Eu costumava celebrar os Sabbats de acordo com o calendário da Inglaterra, e a época do Yule estava chegando. Eu já estava me preparando para a celebração, quando passei "por acaso" na frente desta árvore e ela estava frondosa, exuberante, cheia de folhas, cheia de vida, pulsando de fertilidade! E sob um calor tropical de quase 35 graus, em dezembro!

Para tentar entender os rituais, em primeiro lugar, não podemos deixar de lado o conceito de que as celebrações atuais são baseadas em rituais Celtas extremamente antigos (eles têm muito, mas muito mais do que os meros 2000 anos do cristianismo...), e que tiveram origem em uma época em que a atividade básica de subsistência era a agricultura.

Vamos começar pelo SAMHAIN, em 1o. de maio. 

Este Sabbat marca o início, o prenúncio da estação da morte: o Inverno. Representa a morte simbólica do Deus e, na Natureza, a estação menos fértil - a Deusa está sem seu consorte!

O Samhain também era a antiga festa celta dos mortos. 

Na tradição céltica, o Samhain era a noite da morte e da ressurreição: os mortos precisavam esperar até esta data para fazer a travessia para o "País do Verão", onde a esperança de uma nova vida os aguardava - por isso, na Bruxaria, esta é a época em que se sabe que os véus entre os mundos ficam mais tênues. 

É um tempo de reflexão, de olhar para o que foi feito no ano anterior, e uma época de lembrar os antes queridos que já foram para outros planos.
A noite do Samhain é considerada, pelas Bruxas, como a noite de ano novo por esta conotação de "passagem" da morte para a promessa de uma nova vida de abundância.

A data do Samhain da tradição céltica era tão forte no hemisfério norte (31 de outubro) que foi adaptada pelo cristianismo, na Idade Média, e transformou-se na "noite de todos do santos", ou "noite de todas as almas" (Halloween, em inglês, é uma corruptela de All Hallows Eve, ou "noite de todas as almas"), e  é celebrada até hoje...

O Sabbat seguinte é o YULE, celebrado na noite do Solstício de Inverno, perto de 21 de Junho. 

Uma vez que nesta data ocorrem a noite mais longa e o dia mais curto do ano, e sendo o Sol uma das representações do Deus, o Yule marca a época do ano em que o Deus renasce - porque, a partir do Solstício, as noites ficarão progressivamente mais curtas, e os dias (a presença do Sol) mais longos.

IMBOLC, em 2 de agosto, é um Sabbat de purificação depois das privações do Inverno. 

É uma época de celebração ao calor que aquece a Terra através do poder renovado do Sol, que renasceu da Deusa no Yule. 

Os dias são mais longos e o início da Primavera pode ser sentido na Natureza, que parece se espreguiçar. 
É um festival de fogo, luz e fertilidade, em que as fogueiras e muitas velas são acesas, representando tanto a nossa própria iluminação pessoal quanto a luz e o calor que estão aumentando.

O Equinócio de Primavera, EOSTAR, marca o primeiro dia da Primavera (perto de 21 de Setembro). 

As energias da Natureza sutilmente emergem do sono em que estiveram mergulhadas durante o Inverno. 

A Deusa cobre a Terra de promessas de fertilidade, enquanto o Deus - renascido no Yule - começa a passar da infância para a maturidade. 
Em Eostar, a duração da noite e do dia são iguais. 

A luz começa a vencer a escuridão; o crescimento do Deus e a receptividade da Deusa inspiram as criaturas na Terra a se reproduzir. É a época de iniciar, de agir, de plantar as sementes para o futuro.

BELTANE, em 31 de outubro, representa a entrada do jovem Deus para a idade adulta. 

Incitados pelas energias da Natureza, pela força das sementes e flores que desabrocham, a Deusa e o Deus apaixonam-se. 

Nesta data são celebrados rituais de fertilidade e imensas fogueiras são acesas. As fogueiras de Beltane simbolizam o calor da paixão e a intensidade da interação entre a Deusa e o Deus, e a crescente fecundidade da Terra.

O Solstício de Verão, ou LITHA (perto de 21 de dezembro), é celebrado quando o poder e a força da Natureza chegam ao seu ponto mais alto. 

A Terra está repleta e abundante com a fertilidade da Deusa e do Deus. Mais uma vez, são acesas fogueiras homenageando a energia do Sol, que atinge seu ápice: esta é a noite mais curta e o dia mais longo do ano.

LUGHNASAD, em 2 de fevereiro, é a época da primeira colheita, quando as sementes plantadas na Primavera dão os primeiros frutos ou geram outras sementes que vão assegurar os resultados futuros. 

Mas o Deus começa a perder sua força e, assim, os dias começam a ficar mais curtos e as noites mais longas.

O Equinócio de Outono, ou MABON (primeiro dia do Outono, perto de 21 de março), representa a plenitude da colheita iniciada no Lughnasad. 

Mais uma vez, o dia e a noite têm uma duração igual. A Natureza começa a declinar, preparando-se para o Samhain que se aproxima, preparando-se novamente para o Inverno, a época do recolhimento... e para um novo ciclo que começa.

Os Sabbats são uma forma fantástica de conhecer, respeitar e celebrar os ciclos naturais que quase todo mundo nem vê passar... e são uma chance única de aprender a sintonizar e harmonizar a própria vida, os próprios ciclos vitais, com as energias do Todo.

domingo, 29 de outubro de 2017

COVEN



CovenCoventículo ou Conciliábulo é o nome dado a um grupo de bruxos(as), que se unem num laço mágico, físico e emocional, sob o objetivo de louvar a Deusa e o Deus, tendo em comum um juramento de fidelidade à Arte e ao grupo.
Um Coven tem como filosofia "Perfeito Amor e Perfeita Confiança". Isto quer dizer que dentro do Coven deverá prevalecer a união, pois um Coven é, antes de mais nada, uma família.
Tradicionalmente, ele abriga o máximo de treze pessoas. Quando esse número excede, há uma divisão, e cria-se então os Clãs, formados de vários grupos originados de um Coven inicial comum. Num grupo tão pequeno, todos tornam-se de vital importância, e a falta de qualquer membro é facilmente sentida.

Funcionamento


Em Bruxaria, não existe nenhuma entidade hierárquica. O Coven não precisa ser associado a nenhuma fundação "maior", como um grande "chefe" comandando tudo. No entanto cada tradição tem sua organização própria sendo umas mais piramidais que outras ou ainda mais ou menos fechadas em relação aos novos membros.

O líder do Coven deve possuir sensibilidade e poder interior para canalizar a energia do grupo, para dar início e interromper cada fase dos rituais, ajustando a duração de acordo com o ânimo do grupo. Ele normalmente é escolhido pelo próprio grupo, geralmente tem seu cargo avaliado pelos membros e por si mesmo. Um Grão-Sacerdócio, uma posição de liderança, não é um status vitalício... E sempre que necessário outras pessoas podem tomar estas posições desde que estejam dispostas a trabalhar e de comum acordo com todo o grupo.
Tensões por poder são comuns em todos os lugares. Nessas horas de disputa mesquinha o ideal é que se afastem os membros envolvidos e que se escolha um outro para o cargo. Moderação e diplomacia são sempre preferíveis à decisões ríspidas e autoritárias, mas pulso firme no momento certo, assegura a estabilidade dos laços.
Para tornar-se membro de um Coven, o(a) Bruxo(a) deve primeiro encontrar um Coven e ser iniciado, deve submeter-se a um ritual de comprometimento no qual os ensinamentos e segredos internos do grupo são revelados. A iniciação é seguida de um longo período de treinamento, onde a confiança do grupo é aos poucos conquistada. Ou, se não for possível encontrar um Coven de portas abertas o(a) Bruxo(a) pode escolher uma tradição que admita a auto-iniciação e formar seu próprio grupo de pessoas interessadas, que estudarão, se dedicarão e se tornarão, com um pouco mais de esforço, um Coven...


Características Gerais


Um Coven mantém encontros periódicos para o treinamento, exercícios, troca de experiências, comemoração dos Sabás e Esbás, além de trabalharem juntos em outros rituais. A disciplina é essencial na formação de uma consciência mágica comum ao grupo e de uma Egrégora (que é, para simplificar, a força mágica do grupo e sua repercussão no Astral).

Covens liberais e democráticos em excesso se embaralham em coisas simples. Um pouco de ordem na casa, objetividade e disposição para abrir mão das suas próprias opiniões em pró do grupo sempre ajudam a concentrar esforços numa mesma direção.
Cada Coven tem seu próprio símbolo e nome, suas regras, suas características, seu método de estudo e "carisma mágico próprio". Covens próximos podem e devem trocar influências, porém sempre respeitando a individualidade de cada membro.
Mais que tudo, um Coven é um organismo vivo, pulsante, que responde segundo seus membros. Se alguém está doente, mal-intencionado, desequilibrado, angustiado, isso tudo se reflete no desempenho do grupo, nos resultados dos rituais. Por outro lado se há alguém extremamente bem, feliz, disposto, energizado, isso também é dividido com os membros que sentem a energia do Coven. O Coven une seus membros muito além do plano físico, até mesmo no emocional. A união é uma simbiose mágica. O que um sente é notado por todos, o que um passa é sentido por todos. Reza o ditame: "Os laços de um Coven são mais fortes que o sangue"


Constituintes do Coven

Os Covens não possuem graus hierárquicos. Variando de Coven para Coven, pode existir uma estrutura organizacional, porém todos são vistos como iguais (sacertotes e sacerdotisas dos Deuses). Normalmente os membros são:
  • - Alta Sacerdotisa - a líder feminina de um Coven, normalmente de 3º grau. Ela representa a Deusa em um ritual.
  • - Alto Sacerdote - o líder masculino de um Coven, normalmente de 3º grau. Ele representa o Deus em um ritual.
  • - Anciã(o) - um membro do Coven, com mais experiência, que mereceu seu 3º grau e que seja ou tenha sido uma Alta Sacerdotisa ou Alto Sacerdote em seu próprio Coven.
  • - Terceiro Grau - completa e total dedicação aos Deuses e à Comunidade Wicca.
  • - Segundo Grau - completou o seu 1º grau e é qualificado para ensinar estudantes do primeiro grau. É o grau do verbo "fazer".
  • - Primeiro Grau - aquele que se dedicou a aprender a Arte. Este é o grau do verbo "saber".
  • - Dedicado - aquele que está aspirando o primeiro grau, e já passou pelo ritual de deidicação ao deuses e ao caminho da Wicca.
  • - Neófito - uma pessoa interessada em Wicca, mas que ainda não iniciou seus estudos na Arte.
Os Covens devem escolher uma Alta Sacerdotisa e um Alto Sacerdote que sejam democráticos e bons, além de justos e sábios, porque não importa o que os outros membros do Coven falem... 
É a Alta Sacerdotisa quem dá a palavra final, mesmo que seja essa, contra todos os outros. E se alguém não quiser acatar a ordem da Alta Sacerdotisa, ele deve, humildemente, reunir-se com o coven e expressar o seu desejo de fundar um novo coven. 
Assim, todos aqueles que quiserem segui-lo deverão fazê-lo e partirão com as bênçãos dos que ficarem, para que não haja atrito e possam os dois covens, portanto, viver em perfeito amor, confiança e harmonia.